Clube da Ciência: A importância do registro em Ciências
Desenvolver a competência dos alunos nas três modalidades de registro deve ser uma preocupação constante, sobretudo nas séries iniciais
Amanda Polato (novaescola@atleitor.com.br)
O naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) sempre foi cuidadoso com suas anotações. Tão cuidadoso que a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, já reuniu mais de 20 mil páginas de texto e 100 mil desenhos produzidos por ele. Seus manuscritos, além de preciosidades históricas, revelam quão importante é a etapa do registro na construção do conhecimento em Ciências. E isso vale não apenas para cientistas mas também para estudantes. De acordo com vários especialistas, aprimorar a competência dos alunos nas diferentes modalidades de registro deveria ser uma preocupação constante de todo professor, sobretudo daqueles que trabalham com as crianças das séries iniciais, ainda pouco familiarizadas com o método científico.
Concluído o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, a garotada precisa estar apta a comunicar desde hipóteses elementares até os conceitos mais complexos elaborados entre o 1º e o 5º ano. Como desenhos e textos são ótimos para lapidar essa aptidão, há quem defenda que sejam atividades permanentes. "O registro desenvolve a habilidade de selecionar e organizar informações", diz Anna Maria de Carvalho, coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). "E ainda ajuda a consolidar conhecimentos."
Mas não adianta pedir às crianças que escrevam sem que haja uma necessidade real. Para Maria Tomazello, pesquisadora do Núcleo de Educação e Ciências da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), toda atividade de registro deve ocorrer num contexto de investigação, em que uma situação-problema seja apresentada aos estudantes. "Assim, eles pesquisam e argumentam sobre o assunto estudado, aproximando-se dos conceitos científicos usando as próprias ideias. Quando só o conceito é apresentado, os alunos apenas reproduzem as palavras que ouviram do professor ou leram anteriormente no livro didático."
Segundo os educadores, as três atividades clássicas de registro rendem boas propostas em sala de aula.
Desenhos: registros gráficos de experimentos
CIÊNCIA ILUSTRADA No desenho de um aluno da Escola Santi, o registro gráfico de uma experiência com propagação de luz
Funcionam bem com crianças de qualquer idade, embora sejam especialmente úteis com aquelas que ainda não apresentam pleno domínio da linguagem escrita (leia a atividade). Na Escola Santi, em São Paulo, a professora Juliana Figueiredo pede aos alunos de 1º ano que registrem graficamente um experimento com a propagação de luz. "Desenhando, eles incorporam pelo menos três conceitos: a luz se propaga em linha reta, existem superfícies capazes de refleti-la e é possível desviá-la."
Textos instrucionais: passo a passo de procedimentos
PASSO A PASSO Na EE Marilene Terezinha Longhim, ao produzir textos instrucionais, a turma organiza informações
São uma sequência de instruções que, se mal interpretadas, levam a conclusões incorretas. Ao produzir registros desse tipo, as crianças são desafiadas a organizar informações. É com esse objetivo que a professora Glamis Miguel, da EE Marilene Terezinha Longhim, de São Carlos, a 231 quilômetros de São Paulo, pede às turmas de 3º ano que descrevam um experimento com micro-organismos (leia a atividade). O texto de cada aluno deve ser claro o suficiente para que outra pessoa consiga reproduzir a experiência orientando-se apenas por ele.
Textos informativos: comunicação das descobertas
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Nos textos informativos, os alunos da EMEF Doutor Cardoso de Almeida comunicam seus achados
É por meio desse tipo de texto que os cientistas comunicam suas descobertas. Antes de pedir que os alunos escrevam, porém, é necessário orientá-los. Para quem eles vão escrever? O que pretendem comunicar? Na EMEF Doutor Cardoso de Almeida, em Botucatu, a 235 quilômetros de São Paulo, a professora Talissa Castilho constrói terrários para ensinar aos alunos de 3º ano o ciclo de vida das minhocas (leia a atividade). Ao longo de sete ou oito semanas de observação e leitura, as crianças coletam informações. Por fim, reúnem todos os dados relevantes em um único registro. "Durante o processo", diz Talissa, "eles vão produzindo textos cada vez mais completos."
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